“Não existe religião perfeita”
Esta é uma afirmação que pode nos causar estranheza. Outro dia, escrevi um texto em que esta frase fazia parte de um contexto onde eu falava de conversão. De escuta da palavra de Deus. Mas, ela causou estranheza em algumas pessoas que se sentiram ofendidas. Inclusive, fui acusado de estar cometendo uma heresia (risos). Por isso, indo ao magistério da Igreja colocado no Concílio Vaticano II, e consultando a Declaração Nostra Aetate, faço a reflexão a seguir sobre “Não existe religião perfeita”.
O Papa São Paulo VI, em outubro de 1965, após aprovação pelos padres conciliares, promulgou a Declaração Nostra Aetate, que trata das relações da Igreja com as Religiões Não-cristãs.
Na Introdução do documento, lemos que a Igreja deve “promover a unidade e a caridade entre os homens”. Sendo assim, ela “examina primeiro aquilo que os homens têm de comum e o que os move a viverem juntos o próprio destino”.
A Igreja reconhece que os “homens esperam, das diversas religiões, uma resposta aos recônditos enigmas da condição humana que perturbam profundamente o coração humano”.
A partir desse pressuposto, os padres conciliares afirmaram que “desde os tempos mais remotos encontra-se nos diversos povos certa sensibilidade a essa força escondida, e reconhece-se uma Divindade Suprema e até um Pai”.
Eles afirmam que “as religiões ligadas ao progresso da cultura, esforçam-se por responder ao mesmo problema com noções mais elaboradas e linguagem mais cuidada”.
Os padres conciliares decidiram por destacar algumas qualidades do hinduísmo, budismo, outras religiões universais.
Quanto ao hinduísmo, afirmaram eles “procuram libertar-se das angústias da nossa condição, seja através das formas da vida ascética, seja na meditação profunda, seja ainda no refúgio em Deus com amor e confiança.
Em relação ao Budismo, afirmaram que nas “suas variadas formas, reconhece a insuficiência radial desse mundo mutável e ensina o caminho através do qual os homens, com coração devoto e confiante, poderão atingir o estado de libertação perfeita, ou chegar ao estado de iluminação suprema por meio dos próprios esforços ou com a ajuda vinda do alto”.
Quanto às outras religiões universais, os padres disseram que elas “se esforçam igualmente por responder, de vários modos, à inquietação do coração humano, propondo caminhos, isto é, doutrinas e preceitos de vida, como também ritos sagrados”.
O concilio afirmou que “A IGREJA CATÓLICA NÃO REJEITA NADA QUE SEJA VERDADEIRO E SANTO NESTAS RELIGIÕES” (grifo meu). E mais ainda, que a Igreja “considera com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas, que, embora em muitos pontos difiram do que ela mesma crê e propõe, não raro refletem um raio daquela Verdade que ilumina todos os homens”. E, ao mesmo tempo, a Igreja se vê “obrigada a anunciar a Cristo, que é ‘caminho, verdade e vida’, no qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou a si todas as coisas”.
Sendo assim, a Igreja convoca seus filhos e filhas “a que, com prudência e caridade, por meio do diálogo e da colaboração com os membros das outras religiões, e sempre dando testemunho da fé e da vida cristã, reconheçam, conservem e façam progredir os bens espirituais, morais e os valores socioculturais que nelas se encontram”.
A partir de então, o documento destaca pontos positivos tanto na religião mulçumana quanto na religião judaica. Poderei tratar desse tema em outra oportunidade. Destaco, apenas, que os padres realçam a reverência que os mulçumanos fazem a Virgem Maria, “e chegam mesmo a invocá-la com devoção”. E no judaísmo a proximidade que nos unem.
O documento encerra falando da fraternidade universal. Destaca que “nós não podemos invocar Deus, Pai de todos os homens, se nos recusamos a comportar-nos como irmãos para com alguns homens criados à imagem de Deus”. Neste sentido, a “Igreja reprova, como contrária à vontade de Cristo, qualquer espécie de discriminação entre homens ou de perseguição perpetrada por motivos de raça ou de cor, de condição social ou de religião”.
Afirmar que “não existe religião perfeita” significa deixar-se aberto ao diálogo com todas as manifestações religiosas que Deus suscitou na humanidade. Não nos assustemos. Vivamos nossa fé. Estejamos prontos para darmos razão da nossa esperança (I Pd 3,15). Devemos fazer um esforço para conhecermos o que foi escrito pelo magistério da Igreja para seguirmos sendo fiéis à nossa religião católica.
Aceitar e respeitar outras denominações religiosas, e identificar nelas também a presença de Deus, é uma forma de vivermos de formar madura a nossa fé católica apostólica romana. Quando temos a certeza do que cremos no Deus anunciando por Jesus, nos colocamos em movimento de todas e todos, independente da religião que tenha.
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