Santo Inácio de Loyola - "Tomai, Senhor, e recebei"

Santo Inácio de Loyola - Biografia - InfoEscola
Santo Inácio de Loyola escrevendo os Exercícios Espirituais

Hoje, celebramos a memória de Santo Inácio de Loyola. Em nossos dias a internet está cheia de material para conhecermos a história dela. Encontramos vídeos (longos e breves), além das várias músicas com a letra da chamada Oração de Santo Inácio. 
O que me importa agora é falar não sobre sua vida, mas apresentar dois momentos dos exercícios espirituais que muito me chamam atenção. E, uma observação, os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola é o grande legado que Deus suscitou nesse homem medieval que nos é atual até os dias de hoje.

Mas, antes de falarmos sobre o que pretendo, apresento a visão de Inácio sobre o que são Exercícios Espirituais. Ele diz que "por Exercícios Espirituais se entende  qualquer modo de examinar a consciência, de meditar, de contemplar, de orar vocal e mentalmente, e outras operações espirituais". E acrescenta, "chama-se Exercícios Espirituais diversos modos de a pessoa se preparar e dispor para tirar de si todas as afeições desordenadas. E, depois de tirá-las, buscar e encontrar a vontade divina na disposição de sua vida para sua salvação".

Partindo desse princípio, vamos ver os dois momentos marcantes, na minha visão, atualmente, de como viver isso.

Primeiro, é o chamado Princípio e Fundamento. Podemos dizer que é a abertura dos Exercícios Espirituais. O momento no qual tomamos conhecimento do que somos, e o que pretendemos ser, e como vamos nos entregar nas mãos de Deus para que ele possa dispor de nós como o barro nas mãos do oleiro.

Escreveu Inácio, "O homem é criado para louvar reverenciar e servir a Deus nosso Senhor e assim salvar a sua alma. As outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem e para o ajudarem a atingir o fim para o qual é criado. Da-i se segue que ele deve usar das coisas tanto quanto o ajudem a atingir o seu fim, e deve provar-se delas tanto quanto o impedem. Por isso, é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é permitido à nossa livre vontade e não lhe é proibido. De tal maneira que, da nossa parte, não queiramos mais saúde que enfermidade, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que breve, e assim por diante em tudo o mais, desejando e escolhendo somente aquilo que mais nos conduz ao fim para o qual somos criados". Esse é o texto do Princípio e Fundamento. É o início de tudo, inclusive de nossa existência. Somente essa introdução nos daria oportunidade para fazer um longo curso teológico ou espiritual. Somente esse texto nos proporcionaria um Retiro de 1 a 8 dias.
Mas, quero destacar três pontos. O primeiro, refere-se ao porque fomos criados. Um retorno ao Gênesis, ou ao início da nossa história humana. Olhar para nós e respondermos, porque existo? Quem sou eu? Qual a minha missão? Qual a contribuição que devo dar ao mundo, e às pessoas? Que tipo de sociedade, de humanidade devo ajudar a construir? E por aí vai. "O ser humano (homem) é criado para...".
O segundo ponto refere-se a toda a criação. Não somente a criação física, mas a tudo que se refere ao social, ao moral, ao ético. À tudo aquilo onde colocamos nossas forças. Então, Inácio afirma que as coisas criadas servem para que nós atinjamos o fim para o qual fomos criados. Passamos, então, ao terceiro ponto.
Terceiro. É a chamada "indiferença inaciana". Inácio nos faz livres diante das coisas da vida. Diante das várias situações. Vida x Morte, Riqueza x Pobreza, Honra x Desonra, Vida Longa x Vida Breve. Ele nos faz refletir sobre aquilo que nos aflige em nossas vidas. Inácio nos propõe que em todas as circunstâncias da vida, devemos glorificar a Deus, pois sempre haverá uma oportunidade de dizer que passamos por aquilo para darmos glória a Deus. É um "seja feito a vossa vontade assim na terra como no céu".
Inácio abre os Exercícios Espirituais assim. Nos fazendo esse convite. E assim, a nos abrirmos a tudo que vai acontecer a partir daquele momento. Segue-se as quatro semanas dos Exercícios. Não é objeto de meu texto passar por elas. Então, darei um salto para o fim. Estudiosos dos Exercícios afirmam que os Exercícios são a construção de um círculo. 

Inácio encerra os Exercícios com a "Contemplação para alcançar o amor". O tempo me fez aprofundar essa Contemplação, "alcançar amor". Quem é o amor? Uma pessoa? Várias pessoas? Um sentimento? Um desejo? Uma vontade? O que é o amor?
Lembremos do Princípio e Fundamento, e por que o ser humano foi criado. 
São João diz, "Deus é amor". E continuou, "quem ama conhece a Deus". E são Paulo afirmou, "o amor tudo desculpa, tudo crê, tudo suporta". Então, nada mais fundamental em nossa vida de crentes do que amar. Pois Deus nos amou primeiro em Jesus Cristo. E nos fez cristãos para que amássemos também. 
Amar significa entregar-se ao amado, a amada. E por isso então, tudo o que somos deve estar a serviço do Amor. Inácio, então, faz sua entrega total, e diz: "Tomai, Senhor, e recebei toda minha liberdade. A minha memória também. O meu entendimento e toda a minha vontade. Tudo que eu tenho e possuo, vós me destes com amor. Todos os dons que me destes, com gratidão vos devolvo.  Disponde deles, Senhor, segundo a vossa vontade. Dai-me somente o vosso amor, vossa graça, isso me basta. Nada mais quero pedir". Quem descobriu a sua origem, quem descobriu Deus em sua vida. Quem se tornou livre para viver o amor incondicional pela humanidade, faz a sua entrega total. Tudo é de Deus, liberdade, memória, entendimento, vontade. Dizia uma música, "tudo é do Pai". E isso, que nos foi dado por Deus, agora, na minha liberdade, eu devolvo. Devolvo e aceito que ele disponha de tudo, segundo a vossa vontade (lembra-se, "seja feita a vossa vontade"). E para mim, não fica nada? Claro! Fica o amor e a graça, e isso nos basta (2 Cor 12,9).

Hoje lembramos de Santo Inácio de Loyola, o leigo que fez a profunda experiência de Deus em sua vida. Vivamos com a graça de Deus, isso nos basta. Não sejamos apegados ao que os escraviza. Somos chamados e chamadas a sermos discípulos e discípulas missionárias. 

Para finalizar, Inácio exerceu um apostolado de cartas fantástico. Orientou muitas pessoas através delas. Hoje, acredito que ele usaria e-mails, e as redes sociais. Não perca tempo!

Você teria coragem de dizer e viver:

"Tomai, Senhor, e recebei toda minha liberdade. A minha memória também. O meu entendimento e toda a minha vontade. Tudo que eu tenho e possuo, vós me destes com amor. Todos os dons que me destes, com gratidão vos devolvo.  Disponde deles, Senhor, segundo a vossa vontade. Dai-me somente o vosso amor, vossa graça, isso me basta. Nada mais quero pedir".

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