Como os homens experimentaram a ressurreição? Vendo os relatos da ressurreição, especialmente o relato dos Discípulos de Emaús, nos damos conta de um modo bastante diferente em comparação como a experiência das mulheres relatadas nas aparições e encontros com o Ressuscitado.
O texto de Emaús, pela sua riqueza, beleza e catequese, apresenta um leque bastante grande de perspectivas que podemos explorar. Aqui tentarei me deter no que se apresenta dentro do coração dos discípulos que caminham de Jerusalém para sua aldeia, Emaús.
De imediato, o evangelista marca o tempo. No primeiro dia da semana, enquanto as mulheres foram ainda de madrugada para a homenagem a Jesus no sepulcro, estes dois discípulos, ao entardecer, fogem do epicentro da crise para o lugar de sua segurança, sua aldeia, sua casa. A fuga é gerada pelo medo que venceu entusiasmo. O medo tomou conta dos seus corações e os fazem surdos ao testemunho das mulheres, irônicos com o companheiro de viagem e cegos a perceber a presença do Ressuscitado.
Estão ensimesmados e afunilados na autorreferencialidade. Embodocados sobre si, só falam de si a si mesmos. Transpiram fracasso e desilusão. Reconhecem que Jesus era um grande profeta em palavras e obras, mas não correspondeu ao projeto davídico de implementar o reino que eles esperavam. A esperança que desejavam ver implantada está marcada por desejos individualistas. Jesus havia prometido (Mt 19, 28) um trono para quem o seguisse a fim de julgar as 12 tribos de Israel. Agora, a desilusão toma conta dos desejos de futuro. O futuro não se realizará porque Ele está morto e enterrado há três dias. O testemunho das mulheres é desconsiderado porque se trata... de mulheres. Elas causaram um susto mas não encontraram corações abertos a acolher o testemunho. “Nós esperávamos...” nada se cumprirá. O “nós esperávamos” degenera a vocação na gratuidade. É um seguimento com condicionantes, muito parecido com o do jovem rico. “Eu te seguirei, se...”. Certamente, neste momento, não encontraremos nestes discípulos bons exemplos dos verdadeiros adoradores, em Espírito e verdade, que o Senhor espera.
“Ainda não tinham compreendido as Escrituras”. Por isso, o Ressuscitado vai explicar-lhes as Escrituras, abrindo o entendimento, aquecendo o coração e dando-lhes a conversão. Em oposição ao “nós esperávamos...” Lucas apresenta o termo “era preciso”: Diante dos desejos humanos, a vontade de Deus e aquilo que se realizava segundo as Escrituras. O Ressuscitado, depois de dar um baita puxão de orelha lhes diz “não era preciso que isso acontecesse?” (Lc 24,26). Esse termo diz respeito ao que deve acontecer, ao que tem de acontecer segundo a ação do Espírito de Deus em vista de que o Reino de Deus se realize.
Entre o “nós esperávamos...” e o “era preciso” necessariamente não tem de haver contradição. Vontade humana e vontade divina não são adversárias. Os desejos mais profundos do ser humano coincidem com o querer de Deus. O poeta Benjamin Buelta assim se expressa: “Tu e eu somos os dois uma só folha de papel. Eu sou a página de cima ao sol... Tu és a página de baixo que me sustenta, obscuro, invisível, colado à madeira. Deus de baixo, silenciosa consistência, não posso rasgar-me sem ferir-te, nem posso ser tua página aberta se tu não és minha página calada”. Onde termina o meu eu e onde começa o tu divino? Quando nos parece que nossa vontade está em confronto com a vontade divina, pode ser que, de fato, o verdadeiro confronto esteja se dando entre minha vontade mais superficial e aquilo que realmente é o meu desejo mais profundo. No Getsemani, vemos Jesus enfrentando sua vontade mais superficial até abandonar-se ao mais profundo de seus desejos quando diz ao Pai: “faça-se segundo a tua vontade e não a minha”.
Jerusalém a Emaús é o caminho da desilusão para o recomeço. Na casa, o Desconhecido se revela no partir o pão. A Eucaristia é o momento sublime de revelação e de mudança. Caminharam com Ele, sem o reconhecer. O partir o pão elimina a necessidade da presença física. Os santíssimos efeitos da ressurreição de Cristo se confirmam com o aumento da fé. A esperança substitui a desilusão. A caridade impele a retornar ao seio da Comunidade em vista de confirmar os irmãos.
O texto de Emaús, pela sua riqueza, beleza e catequese, apresenta um leque bastante grande de perspectivas que podemos explorar. Aqui tentarei me deter no que se apresenta dentro do coração dos discípulos que caminham de Jerusalém para sua aldeia, Emaús.
De imediato, o evangelista marca o tempo. No primeiro dia da semana, enquanto as mulheres foram ainda de madrugada para a homenagem a Jesus no sepulcro, estes dois discípulos, ao entardecer, fogem do epicentro da crise para o lugar de sua segurança, sua aldeia, sua casa. A fuga é gerada pelo medo que venceu entusiasmo. O medo tomou conta dos seus corações e os fazem surdos ao testemunho das mulheres, irônicos com o companheiro de viagem e cegos a perceber a presença do Ressuscitado.
Estão ensimesmados e afunilados na autorreferencialidade. Embodocados sobre si, só falam de si a si mesmos. Transpiram fracasso e desilusão. Reconhecem que Jesus era um grande profeta em palavras e obras, mas não correspondeu ao projeto davídico de implementar o reino que eles esperavam. A esperança que desejavam ver implantada está marcada por desejos individualistas. Jesus havia prometido (Mt 19, 28) um trono para quem o seguisse a fim de julgar as 12 tribos de Israel. Agora, a desilusão toma conta dos desejos de futuro. O futuro não se realizará porque Ele está morto e enterrado há três dias. O testemunho das mulheres é desconsiderado porque se trata... de mulheres. Elas causaram um susto mas não encontraram corações abertos a acolher o testemunho. “Nós esperávamos...” nada se cumprirá. O “nós esperávamos” degenera a vocação na gratuidade. É um seguimento com condicionantes, muito parecido com o do jovem rico. “Eu te seguirei, se...”. Certamente, neste momento, não encontraremos nestes discípulos bons exemplos dos verdadeiros adoradores, em Espírito e verdade, que o Senhor espera.
“Ainda não tinham compreendido as Escrituras”. Por isso, o Ressuscitado vai explicar-lhes as Escrituras, abrindo o entendimento, aquecendo o coração e dando-lhes a conversão. Em oposição ao “nós esperávamos...” Lucas apresenta o termo “era preciso”: Diante dos desejos humanos, a vontade de Deus e aquilo que se realizava segundo as Escrituras. O Ressuscitado, depois de dar um baita puxão de orelha lhes diz “não era preciso que isso acontecesse?” (Lc 24,26). Esse termo diz respeito ao que deve acontecer, ao que tem de acontecer segundo a ação do Espírito de Deus em vista de que o Reino de Deus se realize.
Entre o “nós esperávamos...” e o “era preciso” necessariamente não tem de haver contradição. Vontade humana e vontade divina não são adversárias. Os desejos mais profundos do ser humano coincidem com o querer de Deus. O poeta Benjamin Buelta assim se expressa: “Tu e eu somos os dois uma só folha de papel. Eu sou a página de cima ao sol... Tu és a página de baixo que me sustenta, obscuro, invisível, colado à madeira. Deus de baixo, silenciosa consistência, não posso rasgar-me sem ferir-te, nem posso ser tua página aberta se tu não és minha página calada”. Onde termina o meu eu e onde começa o tu divino? Quando nos parece que nossa vontade está em confronto com a vontade divina, pode ser que, de fato, o verdadeiro confronto esteja se dando entre minha vontade mais superficial e aquilo que realmente é o meu desejo mais profundo. No Getsemani, vemos Jesus enfrentando sua vontade mais superficial até abandonar-se ao mais profundo de seus desejos quando diz ao Pai: “faça-se segundo a tua vontade e não a minha”.
Jerusalém a Emaús é o caminho da desilusão para o recomeço. Na casa, o Desconhecido se revela no partir o pão. A Eucaristia é o momento sublime de revelação e de mudança. Caminharam com Ele, sem o reconhecer. O partir o pão elimina a necessidade da presença física. Os santíssimos efeitos da ressurreição de Cristo se confirmam com o aumento da fé. A esperança substitui a desilusão. A caridade impele a retornar ao seio da Comunidade em vista de confirmar os irmãos.
Pe. José Passos da Silva,sj
Pároco da Paróquia São Francisco Xavier,
Bairro Tupi - Belo Horizonte.
Comentários
Postar um comentário
Comentários não pertinentes, de cunho racista, de intolerância religiosa, homofóbico, contra as mulheres, etc não serão publicados.