PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
Rezar sem nunca se cansar
Quinta-feira, 11 de outubro de 2018
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 43 de 25 de outubro de 2018
Rezar com coragem, com constância, até com importunação, sem nunca se cansar; porque a oração não é uma varinha mágica, mas uma busca, um trabalho, uma luta que requer vontade, constância e determinação, frisou o Papa na missa, indicando também duas modalidades concretas de oração: a de Santa Mónica, para implorar a conversão de Agostinho e a de um pai de Buenos Aires — um seu conhecido — que ficou uma noite inteira agarrado ao portão do santuário de Luján para invocar a cura da sua filha moribunda.
Para a sua homilia, o Pontífice inspirou-se no trecho litúrgico do Evangelho de Lucas (11, 5-13), onde «há três realidades: um homem necessitado, um amigo e um pouco de pão». O primeiro dos três, ou seja o necessitado, não «esperava que àquela hora chegasse outro amigo à sua casa, e nada tinha para lhe oferecer, porque já tinham jantado». Então pensou consigo mesmo: «Irei ter com o meu amigo, que me dará algo e amanhã arranjar-me-ei com ele». E vai ter com «o amigo porque tem confiança nele, é seu amigo»; mas ele responde-lhe: «Espera um pouco. Olha que horas são... eu e os meus filhos estamos na cama. Não posso levantar-me» para ir «procurar algo» na despensa. Contudo — observou Francisco — o protagonista da narração «insiste para ter o pão».
Então, eis os elementos identificados pelo Papa para atualizar a reflexão: «A necessidade; o amigo; e outro amigo que tem pão. Assim o Senhor quer ensinar-nos a rezar. Diz o Senhor: “Digo-vos: embora não se levante para lhe dar o pão, porque se trata do seu amigo, levantar-se-á pelo menos por causa da sua insistência, para lhe dar os pães dos quais precisa”. Tudo. “Vem, toma o pão, os chouriços, toma tudo e leva-o para casa”». Em síntese: «insistência. É assim que o Senhor nos quer ensinar a rezar».
Eis as modalidades concretas de oração sugeridas pelo Papa. «Devemos rezar com coragem, pois quando oramos precisamos de algo». E Deus é um amigo, aliás, «um amigo rico que tem pão, dispõe daquilo de que precisamos». É, acrescentou Francisco, «como se Jesus dissesse: “Na oração sede importunos. Não vos canseis”. Mas não vos canseis do quê? De pedir. “Pedi e ser-vos-á dado”». Portanto, uma oração que se faz busca. A tal propósito, o Papa recomendou: «Procurai. E se uma porta estiver fechada, ide bater à outra. Procurai e encontrareis. Batei e ser-vos-á aberto. Sede importunos na oração, pois quem pede recebe, quem procura encontra, quem bate ser-lhe-á aberto». E «isto é bonito», comentou esclarecendo que «a oração não é como uma varinha mágica: nós recitamos a oração e... pum! E cumpre-se a graça».
Ao contrário, segundo o Papa, «a oração é um trabalho: uma labuta que requer vontade, constância e determinação, sem vergonha. Porquê? Porque eu bato à porta do meu amigo. Deus é amigo, e com um amigo posso fazer isto. Uma prece constante, importuna». Como a de Santa Mónica, por exemplo: «Quantos anos rezou assim, até com lágrimas, pela conversão do seu filho» Agostinho. «No final o Senhor abriu a porta. Mas se pedires, recitares dois “Pais-Nossos” e fores embora», quer dizer que «não desejas realmente o que pedes». Ao contrário, é preciso «pedir com insistência».
E para explicar o seu pensamento, o Papa inspirou-se mais uma vez nas experiências pessoais vividas na Argentina, evocando um acontecimento muito emocionante. «Acho que certa vez vos disse, mas não tenho a certeza: eu estava em Buenos Aires, num hospital havia uma menina de nove anos com uma doença infecciosa, contagiosa, e numa semana teria morrido». Quando «os médicos chamaram os seus pais, disseram-lhes: “Fizemos o possível, mas não há nada a fazer. Morrerá em duas ou três horas”». Então «o pai, que era um operário — um homem simples, trabalhador — e conhecia a realidade da vida como Jesus, saiu da clínica, deixou ali a sua esposa, apanhou um autocarro» e percorreu 70 km até ao santuário de Nossa Senhora de Luján. Saiu por volta das 18h00 e chegou às 20/21h00, quando o santuário já estava fechado. Mas «esse homem permaneceu ali a noite inteira, diante do santuário. Agarrou-se ao portão de entrada do santuário, e a noite inteira implorou a Nossa Senhora: “Quero a minha filha. Quero a minha filha. Tu podes dar-ma”. Depois, por volta das 5/6h da manhã, voltou a apanhar o autocarro e regressou». Chegou «mais ou menos às 9h30 e encontrou a esposa um pouco desorientada, sozinha. A menina não estava ali. Pensou no pior. E a mãe, a esposa, disse-lhe: “Sabes, os médicos levaram-na para fazer outro exame, não conseguem explicar porque ela despertou e pediu para comer, e não tem nada, está bem, fora de perigo”. Isto aconteceu. Estou certo». E o ensinamento tirado deste acontecimento é que «aquele homem talvez não fosse à missa todos os domingos, mas sabia rezar, sabia que quando» temos «uma necessidade, há um amigo que tem a possibilidade, tem o pão, tem a possibilidade de resolver um nosso problema». Por isso, «bateu à porta a noite inteira».
Certamente, trata-se de «um exemplo». Mas «há muitos», afirmou o Papa, salientando que a maior parte de «nós não sabe rezar. Orai um pouco: “Quero isto...”. Pensai nas crianças mimadas que, quando querem algo, gritam, se agitam, “Eu quero, eu quero!”. Choram e no final a mãe e o pai dizem: “Toma lá isto e vai, pelo menos assim não chateias”». Acontece o mesmo «com Deus. “Mas padre, Deus não se zangará se eu agir assim?”. Jesus prevê esta pergunta, dizendo: “Mas qual pai entre vós, se o filho lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vós, que sois maus — que sois pais maus, todos somos maus — sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, muito mais o vosso Pai celeste dará o Espírito Santo aos que lho pedirem!». De resto, Deus «é um amigo: dá sempre o bem. E mais: peço-lhe para resolver este problema, e Ele resolve-se, concedendo-te até o Espírito Santo. E mais!».
Disto sobressai uma consideração final, um convite da parte do Papa: «Pensemos um pouco: como rezo? Como um papagaio? Rezo precisamente com a necessidade no coração? Luto com Deus na oração, para que Ele me conceda aquilo de que tenho necessidade, se for justo? Aprendamos a rezar a partir deste trecho do Evangelho».
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
Rezar sem nunca se cansar
Quinta-feira, 11 de outubro de 2018
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 43 de 25 de outubro de 2018
Rezar com coragem, com constância, até com importunação, sem nunca se cansar; porque a oração não é uma varinha mágica, mas uma busca, um trabalho, uma luta que requer vontade, constância e determinação, frisou o Papa na missa, indicando também duas modalidades concretas de oração: a de Santa Mónica, para implorar a conversão de Agostinho e a de um pai de Buenos Aires — um seu conhecido — que ficou uma noite inteira agarrado ao portão do santuário de Luján para invocar a cura da sua filha moribunda.
Para a sua homilia, o Pontífice inspirou-se no trecho litúrgico do Evangelho de Lucas (11, 5-13), onde «há três realidades: um homem necessitado, um amigo e um pouco de pão». O primeiro dos três, ou seja o necessitado, não «esperava que àquela hora chegasse outro amigo à sua casa, e nada tinha para lhe oferecer, porque já tinham jantado». Então pensou consigo mesmo: «Irei ter com o meu amigo, que me dará algo e amanhã arranjar-me-ei com ele». E vai ter com «o amigo porque tem confiança nele, é seu amigo»; mas ele responde-lhe: «Espera um pouco. Olha que horas são... eu e os meus filhos estamos na cama. Não posso levantar-me» para ir «procurar algo» na despensa. Contudo — observou Francisco — o protagonista da narração «insiste para ter o pão».
Então, eis os elementos identificados pelo Papa para atualizar a reflexão: «A necessidade; o amigo; e outro amigo que tem pão. Assim o Senhor quer ensinar-nos a rezar. Diz o Senhor: “Digo-vos: embora não se levante para lhe dar o pão, porque se trata do seu amigo, levantar-se-á pelo menos por causa da sua insistência, para lhe dar os pães dos quais precisa”. Tudo. “Vem, toma o pão, os chouriços, toma tudo e leva-o para casa”». Em síntese: «insistência. É assim que o Senhor nos quer ensinar a rezar».
Eis as modalidades concretas de oração sugeridas pelo Papa. «Devemos rezar com coragem, pois quando oramos precisamos de algo». E Deus é um amigo, aliás, «um amigo rico que tem pão, dispõe daquilo de que precisamos». É, acrescentou Francisco, «como se Jesus dissesse: “Na oração sede importunos. Não vos canseis”. Mas não vos canseis do quê? De pedir. “Pedi e ser-vos-á dado”». Portanto, uma oração que se faz busca. A tal propósito, o Papa recomendou: «Procurai. E se uma porta estiver fechada, ide bater à outra. Procurai e encontrareis. Batei e ser-vos-á aberto. Sede importunos na oração, pois quem pede recebe, quem procura encontra, quem bate ser-lhe-á aberto». E «isto é bonito», comentou esclarecendo que «a oração não é como uma varinha mágica: nós recitamos a oração e... pum! E cumpre-se a graça».
Ao contrário, segundo o Papa, «a oração é um trabalho: uma labuta que requer vontade, constância e determinação, sem vergonha. Porquê? Porque eu bato à porta do meu amigo. Deus é amigo, e com um amigo posso fazer isto. Uma prece constante, importuna». Como a de Santa Mónica, por exemplo: «Quantos anos rezou assim, até com lágrimas, pela conversão do seu filho» Agostinho. «No final o Senhor abriu a porta. Mas se pedires, recitares dois “Pais-Nossos” e fores embora», quer dizer que «não desejas realmente o que pedes». Ao contrário, é preciso «pedir com insistência».
E para explicar o seu pensamento, o Papa inspirou-se mais uma vez nas experiências pessoais vividas na Argentina, evocando um acontecimento muito emocionante. «Acho que certa vez vos disse, mas não tenho a certeza: eu estava em Buenos Aires, num hospital havia uma menina de nove anos com uma doença infecciosa, contagiosa, e numa semana teria morrido». Quando «os médicos chamaram os seus pais, disseram-lhes: “Fizemos o possível, mas não há nada a fazer. Morrerá em duas ou três horas”». Então «o pai, que era um operário — um homem simples, trabalhador — e conhecia a realidade da vida como Jesus, saiu da clínica, deixou ali a sua esposa, apanhou um autocarro» e percorreu 70 km até ao santuário de Nossa Senhora de Luján. Saiu por volta das 18h00 e chegou às 20/21h00, quando o santuário já estava fechado. Mas «esse homem permaneceu ali a noite inteira, diante do santuário. Agarrou-se ao portão de entrada do santuário, e a noite inteira implorou a Nossa Senhora: “Quero a minha filha. Quero a minha filha. Tu podes dar-ma”. Depois, por volta das 5/6h da manhã, voltou a apanhar o autocarro e regressou». Chegou «mais ou menos às 9h30 e encontrou a esposa um pouco desorientada, sozinha. A menina não estava ali. Pensou no pior. E a mãe, a esposa, disse-lhe: “Sabes, os médicos levaram-na para fazer outro exame, não conseguem explicar porque ela despertou e pediu para comer, e não tem nada, está bem, fora de perigo”. Isto aconteceu. Estou certo». E o ensinamento tirado deste acontecimento é que «aquele homem talvez não fosse à missa todos os domingos, mas sabia rezar, sabia que quando» temos «uma necessidade, há um amigo que tem a possibilidade, tem o pão, tem a possibilidade de resolver um nosso problema». Por isso, «bateu à porta a noite inteira».
Certamente, trata-se de «um exemplo». Mas «há muitos», afirmou o Papa, salientando que a maior parte de «nós não sabe rezar. Orai um pouco: “Quero isto...”. Pensai nas crianças mimadas que, quando querem algo, gritam, se agitam, “Eu quero, eu quero!”. Choram e no final a mãe e o pai dizem: “Toma lá isto e vai, pelo menos assim não chateias”». Acontece o mesmo «com Deus. “Mas padre, Deus não se zangará se eu agir assim?”. Jesus prevê esta pergunta, dizendo: “Mas qual pai entre vós, se o filho lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vós, que sois maus — que sois pais maus, todos somos maus — sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, muito mais o vosso Pai celeste dará o Espírito Santo aos que lho pedirem!». De resto, Deus «é um amigo: dá sempre o bem. E mais: peço-lhe para resolver este problema, e Ele resolve-se, concedendo-te até o Espírito Santo. E mais!».
Disto sobressai uma consideração final, um convite da parte do Papa: «Pensemos um pouco: como rezo? Como um papagaio? Rezo precisamente com a necessidade no coração? Luto com Deus na oração, para que Ele me conceda aquilo de que tenho necessidade, se for justo? Aprendamos a rezar a partir deste trecho do Evangelho».
Comentários
Postar um comentário
Comentários não pertinentes, de cunho racista, de intolerância religiosa, homofóbico, contra as mulheres, etc não serão publicados.